sábado, 18 de fevereiro de 2012

A Coxa

No sofá se apresentava uma coxa, então fiz que dizia qualquer coisa num tom inebriado e me sentei. Não foi muito importante e foi a última coisa que eu disse naquela noite. Os outros seguiram com conversas divertidas, mas me entrei num estado de ficar olhando e imaginando coisas.

A coxa era feliz e esticava a calça jeans, não demorou pra aceitar minha mão. E senti que ela era boa e quentinha.

De repente, por semelhança da sensação, aquela coxa era de uma antiga namorada. Não quis abrir os olhos para não dissipar essa imaginação, porque era grande a saudade dessa moça.

Ela perguntou no que eu estava pensando, menti que esqueci, como acontece muito aos bêbados.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Um pesadelo

Então, o pesadelo foi muito bizarro, mas engraçado também, mas eu me senti muito mal durante ele, e logo depois que acordei também.

Eu tava em casa, aí de repente apareceu um macaco babuíno que começou a destruir o lugar, quebrar tudo e tal. Ele usava roupas! E eu estava me sentindo muito enjoado no sonho, com dor de cabeça. Aí o Isaac, meu amigo, apareceu e tentou me ajudar a entender que porra tava acontecendo: na real, não tinha nenhum babuíno lá, era só eu, que tava destruindo tudo. E nisso eu fiquei mais e mais enjoado, vomitando muito.

Quando eu finalmente entendi que o macaco era só a minha cabeça, o Isaac e o macaco sumiram, mas eu ainda tava me sentindo mal. Aí, eu olhei pela janela e tava o Roman, o Matthias (um brother que joga bola com a gente) e o Tom Jobim, andando na rua juntos. Chamei eles, e eles deram uma passada em casa e conversaram comigo, dizendo que tavam chateados de eu ter passado tão mal. Aí quando eles tavam indo embora, eu virei pro Tom e falei "Ei, tamo com saudade de você!", e ele virou e disse "Eu sei".

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Mas eu sabia e sei que só o amor não basta.

"Outside The Finland Railway Station" é um letreiro de Outubro que ficou para sempre na minha cabeça, talvez um dia crie alguma coisa e lhe dê este título. "A última vez que fui feliz foi aos 9 do segundo tempo" é uma frase que pronunciei uma vez e um amigo me falou que também daria um bom título. Quando meu tio mais velho se sentou na cabeceira da mesa de jantar pela primeira vez, tocou na minha cabeça a música tema do Poderoso Chefão.

Havia metaleiros de spike encostados no muro tomando Sunday quando fui te visitar a primeira vez, aquilo foi muito curioso e foi o que me tirou a ansiedade. Às vezes enquanto caminho imagino pessoas falando bem de mim, depois reconheço que provavelmente não sou tão bom quanto disseram na minha imaginação. Quando estou contente vejo na rua todas as mulheres que já beijei e abraço uma a uma agradecendo pelos bons momentos, no fim da rua pego na sua mão e seguimos pro McDonalds.

domingo, 24 de outubro de 2010

Na fila do supermercado

Na fila do supermercado Netto, um garoto de uns oito anos, baixo, gordinho e loiro, está emburrado. É uma tarde de domingo, parada como sempre. O pai e a mãe fazem as compras da quinzena.

O pai do garoto percebe o filho cabisbaixo junto da mãe na fila. Suspira e olha ao redor, seu olhar tromba em algo. Um fio de idéia cruza a mente e as peças vão se juntando. Sim, ele sabe aonde ir agora, já percebeu no detalhe outro dia. É só ir.

A mãe observa o pai enquanto este guarda as compras no porta-malas do carro. Há algo de diferente, mas bom, no seu rosto, ela sabe bem. O garoto continua de cara fechada, sem notar nada.

Corta para 20 minutos depois. A trindade familiar chega lá, na universidade. O garoto já sorri nessas alturas, o pai já lhe falou o que vai acontecer e a mãe continua sorrindo enquanto caminham todos juntos, daquele jeito meio desorganizado das pessoas felizes.

Enquanto cruzo o salão, a família passa por mim, conversando. O garoto brilha no espaço, carregando um pacote de bolinhas de ping-pong, e o pai e a mãe riem. Em poucos minutos, ping-pong, ping-pong, ping-pong, e saudades da minha casa.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Reencontros 2: O Sacana

O sacana era bom, respondia a todas as perguntas na lata, sem titubear, preenchia os requisitos, tinha o perfil para a empresa. Lá pelo fim da entrevista inventei de perguntar:
- E as eleições, Lula lá?
Aí ele parou, deu pra ver que não era uma hesitação, era mais uma preparação pro bote, por dentro eu tremi, mas dei aquele sorriso simpático. Ele lançou:
- Tem certeza que quer me perguntar isso?
- Porque não?
- Se você me pergunta, eu respondo e você não me contrata, posso te processar. É crime discriminar por raça, condição social, credo e orientação política. - subiu um tom na voz pra falar "política".
- Então deixa...
Não quis nem saber. Esperei uma semaninha pra não dar bandeira e contratei o sacaninha, era bom pra caralho, mas não durou nem dois meses na firma, chegou um dia uma hora atrasado e antes de eu pensar em bradar ele já lançou:
- Não venho mais não.
Seis anos depois tô eu no engarrafamento e vejo a foto dele num cartaz, saindo pra vereador pelo PCB. Votei nele, o sacana era bom.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Em cima do muro

Não, doutor, não vou colocar.

Por acaso você já viu o que acontece com um coitado que coloca a mão num monte de cacos como esse? Não, né? Então… Fica feio, muito feio. Esses cacos juntam sujeira, daquelas que se entra no seu sangue, não tem jeito, você tem que ir no hospital.

E dá-lhe ficar na fila do Ipaussurama, esperando uma vaga no meio daquela desgraceira toda, sangrando feio. Não é razoável, doutor, mesmo que tenha se cortado um ladrão mal intencionado. O que ele ia roubar não ia valer esses cortes feios na mão ou até em outra parte do corpo, vai saber…

Outra coisa: o meu servente aqui tem uns quinze anos. E se o rapaz se corta na hora de quebrar as garrafas? Com que cara eu chego na mãe dele? Pode cortar um dedo, fácil, fácil. Não, doutor, não vou colocar caco de vidro em cima do seu muro.

O senhor com certeza tem recursos para colocar outra coisa, uma cerca elétrica que seja. É ruim, mas não mutila a pessoa. Você nunca deve ter visto um machucado feio desses, doutor.

E dizer que é bem feito, que ele merece, que é culpado, que ladrão bom é ladrão morto… O senhor não vai me desculpar, mas é hipocrisia, doutor!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Madam,

Down the rabbit hole para sempre, agora? Mantenho firme o capítulo dedicado a você no meu livro, o que passamos não foi pouco. Lembro de quando cheguei em Marte assustado com aquela escuridão toda e gente esquisita e foi um alívio muito grande te ver. Naquela época você falava várias coisas que eu não compreendia, que eu nunca fui bom em compreender.

- Quando você estiver mais velho vai saber que deve aproveitar essas oportunidades.

Confesso, entendi um segundo depois, sempre fui bom em entender absolutamente tudo, mas nunca muito confiante nesses entendimentos, então não fiz nada, como de costume, e o dia amanheceu e eu fui embora.

Está certo que tivemos nossos desencontros na Terra, mas prefiro não me lembrar dessa parte. O que interessa é a sincronia que conseguimos realizar no Espaço.

No entanto tudo isso passou, são memórias que guardo com carinho, mas que guardo no passado. Já fazia anos que não ouvia falar de ti e recebo de cara uma notícia como estas.

Madam, continuas insuportável.