sexta-feira, 28 de maio de 2010

Em cima do muro

Não, doutor, não vou colocar.

Por acaso você já viu o que acontece com um coitado que coloca a mão num monte de cacos como esse? Não, né? Então… Fica feio, muito feio. Esses cacos juntam sujeira, daquelas que se entra no seu sangue, não tem jeito, você tem que ir no hospital.

E dá-lhe ficar na fila do Ipaussurama, esperando uma vaga no meio daquela desgraceira toda, sangrando feio. Não é razoável, doutor, mesmo que tenha se cortado um ladrão mal intencionado. O que ele ia roubar não ia valer esses cortes feios na mão ou até em outra parte do corpo, vai saber…

Outra coisa: o meu servente aqui tem uns quinze anos. E se o rapaz se corta na hora de quebrar as garrafas? Com que cara eu chego na mãe dele? Pode cortar um dedo, fácil, fácil. Não, doutor, não vou colocar caco de vidro em cima do seu muro.

O senhor com certeza tem recursos para colocar outra coisa, uma cerca elétrica que seja. É ruim, mas não mutila a pessoa. Você nunca deve ter visto um machucado feio desses, doutor.

E dizer que é bem feito, que ele merece, que é culpado, que ladrão bom é ladrão morto… O senhor não vai me desculpar, mas é hipocrisia, doutor!

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